quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Lista de livros com condições especiais de empréstimo para familiares de alunos

Contos da montanha/Miguel Torga
Aventura do João Sem Medo/ José Gomes Ferreira
O velho que lia romances de amor/ Luis Sepulveda
Sexta-feira ou a vida selvagem/ Michel Tournier
O velho e o mar/Ernest Hemingway
Prenúncio das águas/Rosa Lobato faria
Inês de Portugal/João Aguiar
O testamento do Sr. Nepomuceno da Silva Araújo/Germano de Almeida
Lua Nova/Stephenie Meyer
Harry Potter e a pedra filosofal/ J.K.Rowling
O mundo em que vivi/ Ilse Losa
O flamingo da asa quebrada/ Augusto Carlos
O sono da morte/Dick Haskins
O jogo da verdade/Sveva Casati Modignani
Uma promessa de amor/Tiago Rebelo
Falar é fácil/Zé Diogo Quintela

Seleções do livro

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

ABC V de Cesário Verde

Contrariedades
Eu hoje estou cruel, frenético, exigente; 
Nem posso tolerar os livros mais bizarros. 
Incrível! Já fumei três maços de cigarros 
Consecutivamente. 

Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos: 
Tanta depravação nos usos, nos costumes! 
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes 
E os ângulos agudos. 

Sentei-me à secretária. Ali defronte mora 
Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes; 
Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes 
E engoma para fora. 

Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas! 
Tão lívida! O doutor deixou-a. Mortifica. 
Lidando sempre! E deve a conta na botica! 
Mal ganha para sopas... 

O obstáculo estimula, torna-nos perversos; 
Agora sinto-me eu cheio de raivas frias, 
Por causa dum jornal me rejeitar, há dias, 
Um folhetim de versos. 

Que mau humor! Rasguei uma epopéia morta 
No fundo da gaveta. O que produz o estudo? 
Mais duma redação, das que elogiam tudo, 
Me tem fechado a porta. 

A crítica segundo o método de Taine 
Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa 
Muitíssimos papéis inéditos. A imprensa 
Vale um desdém solene. 

Com raras exceções merece-me o epigrama. 
Deu meia-noite; e em paz pela calçada abaixo, 
Soluça um sol-e-dó. Chuvisca. O populacho 
Diverte-se na lama. 

Eu nunca dediquei poemas às fortunas, 
Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas. 
Independente! Só por isso os jornalistas 
Me negam as colunas. 

Receiam que o assinante ingênuo os abandone, 
Se forem publicar tais coisas, tais autores. 
Arte? Não lhes convêm, visto que os seus leitores 
Deliram por Zaccone. 

Um prosador qualquer desfruta fama honrosa, 
Obtém dinheiro, arranja a sua coterie; 
E a mim, não há questão que mais me contrarie 
Do que escrever em prosa. 

A adulação repugna aos sentimentos finos; 
Eu raramente falo aos nossos literatos, 
E apuro-me em lançar originais e exatos, 
Os meus alexandrinos... 

E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso! 
Ignora que a asfixia a combustão das brasas, 
Não foge do estendal que lhe umedece as casas, 
E fina-se ao desprezo! 

Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova. 
Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente, 
Oiço-a cantarolar uma canção plangente 
Duma opereta nova! 

Perfeitamente. Vou findar sem azedume. 
Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas, 
Conseguirei reler essas antigas rimas, 
Impressas em volume? 

Nas letras eu conheço um campo de manobras; 
Emprega-se a réclame, a intriga, o anúncio, a blague, 
E esta poesia pede um editor que pague 
Todas as minhas obras 

E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha? 
A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia? 
Vejo-lhe luz no quarto. Inda trabalha. É feia... 
Que mundo! Coitadinha! 

Cesário Verde, in 'O Livro de Cesário Verde'  em http://www.citador.pt/poemas/contrariedades-cesario-verde